sábado, 9 de janeiro de 2016

Mosqueiro, conhecendo a nossa história - Parte I


                                                       
                                                          


                                              A FESTA DE NAZARETH   01

Quando um cliente chega em nossa loja e olha as fotos antigas que estão expostas, uma delas chama a atenção: uma foto onde a praça da matriz está toda enfeitada com bandeiras, mostra que há dois pavilhões a igreja ao fundo, crianças e outros adultos em um clima de festa e aí perguntam é a praça do Mosqueiro?
Sim! Respondemos, ficam entusiasmadas e parecem querer saber sempre algo a mais.

Aos poucos, com muito trabalho e paciência desvendamos através de pesquisas, um pouco de nossa história. Hoje lhes trago, um texto publicado no jornal O Democrata, datado de 21 de setembro de 1892 assinado simplesmente por “Tourist”, alguém, um turista que por livre vontade quis relatar a festividade da Festa de Nazareth em Mosqueiro sob sua ótica. São informações preciosas de um tempo passado que vale a pena acompanhar e aguardar novas publicações.

                                                 Descreve, nosso misterioso turista:
O Círio que teve lugar na manhã de domingo último, como início da festividade de Nossa Senhora de Nazareth no Mosqueiro, esteve bem ordenado e assás (bastante) concorrido, atestando mais uma vez o fervor religioso do povo.
A afluência de pessoas de todas as classes que daqui seguiram desde a tarde de sábado até de domingo foi enormíssima.
                                      
                                          A Bordo
Em todos os vapores que se dirigiam ao Mosqueiro, com exceção de algumas lanchas particularmente fretadas, os passageiros iam como sardinhas em latas.
Durante as viagens eu presenciei algumas cenas de absoluta falta de traquejo social e bem raras de fina delicadeza.
Deixarei de parte aquelas e salientarei umas destas, para estimulo de alguns “felpudos”: Apenas entraram no “TUCUNARÉ”¹  algumas que já não encontraram onde se assentar, um guarda-marinha que ali vinha também, não somente levantou-se e lhes ofereceu lugar, como ainda se empenhou para que os outros cavalheiros fizessem o mesmo, no que foi prontamente atendido.
No “AJUDANTE”¹, um cabo da manutenção da ordem entendeu dirigir pilherias picantes a uns rapazes e como estes o repelissem quis “correr facão”. Felizmente o comandante do navio conseguiu “gruda-lo”, entregando-o aqui as autoridades competentes.
Numa outra lancha dizem-me que fizeram greve os passageiros que iam sobre a coberta, recusando-se satisfazer as passagens.
                                                               

 1 - Vapores que fizeram linha entre Pinheiro (Icoaraci) e Mosqueiro.


                                            EMBARQUES E DESEMBARQUES
Grande era a confusão que sempre se manifestava nos embarques e desembarques, dando-se por isso alguns incidentes desagradáveis e um bem lamentável. Foi esta a morte do infeliz maquinista Francisco Chagas que de bordo da lancha “Siqueira Mendes” caiu ao rio na noite de sábado, fato que não foi logo percebido em consequência do alvoroço e vozeria da gente que porfiava em desembarcar primeiro, unida a dos curiosos aglomerados na ponte, e mais as gaitadas de uma charanga que se exibia na ocasião.

Também no sábado à noite, quando uma das lanchas fazia certa manobra para atracar, deu com o “focinho” num dos fortes pilares da ponte, pondo-o logo fora de seu posto
Sem refletir que já faltava à ponte esse ponto de apoio, o povo aglomerou-se na mesma, no domingo à tarde para ver de perto as novas caras que chegavam no “Tucunaré”.
O resultado foi partir-se, cair e sumir-se sob as águas algumas das tesouras colocadas da parte que já faltava o pilar, abatendo notavelmente a ponte desse lado.
O susto foi então maior do que a expansão festiva: Todos corriam e muitas moças gritavam...sem mesmo saber porque, nessa ocasião caiu n’água uma menina; mas mesmo como quem conta um caso aumenta-lhe a cauda, quando a notícia se espalhou na freguesia já se dizia que tinha morrido afogadas mais duas meninas e uma senhora...

                                                           PELA FREGUESIA
Em toda a freguesia havia muita lama, devido às chuvas que desabaram sábado e domingo e aos montões de terras acumuladas junto das calhas abertas nesses últimos dias. Não obstante isso, por toda a localidade era manifesta a expansão festiva, e em todas as ruas, algumas das quais embandeiradas, era continuo o alegre rebuliço popular.
Grupos de moças “chiques”, que emigraram destas regiões asfixiantes da capital, trajando com simplicidade, e de rapazes tendo ao lado as suas “pendículas”, passeavam satisfeitos, aspirando os olhares daquela atmosfera mais livre e expandindo ao mesmo tempo chispas eletrizantes...

                                                                O TEMPLO

Pequeno; mas interiormente muito bem adornado.
Os festejos correram sem assistência de sacerdote, visto não ter sido possível seguir desta capital o Reverendo que estava convidado para neles oficiar.
A tarde apresentou-se na igreja mais de vinte crianças, __(ilegível)_entre elas uma em perigo de vida.
Foi visitado o templo, por muitos devotos que nele poderiam entrar.

                                                                O CÍRIO

Pelo círio, do qual já nos ocupamos, no princípio, tornaram-se evidentes os esforços que o Sr. Salsa Lima, diretor da festa, tem envidado, para dar toda a animação e esplendor à mesma.



.
                                                                O ARRAIAL
No arraial, profusamente embandeirado, além dos dois pavilhões da musica, erguem-se barraquinhas nas quais vi muita rapaziada lavada ir conciliar o sono, depois de verificar que “tudo era silêncio na terra”,
Uma enfadonha zoada de campainhas, chamando concorrentes para os diversos jogos, amolava a paciência da gente.

                                                  DIVERSÕES PARTICULARES

Em algumas casas de famílias deram-se almoços com brindes e ”hips”. Na de um meu velho amigo Serafim (O Almeida) dançaram de dia; na de um outro amigo Serafim (o Moraes) e na do Cabralzinho dançaram de noite (domingo).
Defronte da casa deste último, uns rapazes folgazões, dirigidos pelo Paraguassú, improvisaram uma corrida a pé.
Um dos amadores, o jovem S.r. Lima, todo de ponto branco, ficou carrapachado num lamaçal.
As primeiras vitórias foram aplaudidas; este interessante sucesso com estrondosas gargalhadas.
Anda podia continuar; não desejo, porém, “cacetear” mais os leitores.
Comprometi-me a escrever esta notícia e, bem ou mal, julgo que estou quite.

                                                                                                                                                 TOURIST.


                           
O lado festivo religioso ao que parece, era uma constante. Em várias outras datas comemorativas os jornais da época divulgavam pequenos detalhes, alguns deles desconhecidos até o momento e que retratam um pouco de nossos costumes.

As festividades religiosas divulgadas referem-se a Nossa Senhora de Zarareth e Nossa Senhora do Ó.


































































 " PELA PRIMEIRA VEZ O CÍRIO DE NOSSA SENHORA DE NAZARETH NA FREGUESIA DO MOSQUEIRO" - Edição do Jornal O Democrata em 13 de setembro de 1892.



Interessante são as brincadeiras: Mastro de cocagne, porquicidio e paticidio :


Mastro de Cocagne.

S. Thomé [São Tomé] Mastro de Cocagne.
 Arquivo Histórico Ultramarino, Calcada da Boa-Hora, nº 30. 1300-095 Lisboa Portuga.
Local: São Tomé e Princip.
Fotografo: M. Lopes

Muito semelhante ao "pau de sebo", usado na festividade de São Pedro no período junino.





 O termo "paticidio" sugere algo igual ao da gravura ao lado.












A lanterna Mágica , uma atração com projeção de imagens em uma das festividades de 1892, certamente levou ao delírio os entusiastas da festividade e certamente foi uma das mais requisitadas. Abaixo a representação de um mecanismo  mais aperfeiçoado mais que ainda continha os princípios da projeção.

  Olha só como funcionava:
 Projeção de lanterna mágica (para o cenário fixo), jogos de espelhos e as tiras flexíveis com imagens transparentes que mostram diferentes poses das personagens: é a partir desses elementos que o espetáculo é feito! Uma das principais conquistas do Teatro Óptico foi ir além da tira com um número limitado de imagens (como era no Zootrópio, Praxinoscópio etc., que eram brinquedos circulares, cujas imagens eram animadas em loop). As tiras do novo invento podiam ser longuíssimas! O loop não deixa de ser importante, claro (os filmes feitos para o Kinetoscope de Edison, por exemplo, são “circulares” – é só lembrar da Dança Serpentina), mas o comprimento indefinido das tiras de Reynaud permitiu que as animações pudessem ser mais longas.




O Teatro Óptico, inventado por Reynaud em 1888, era um aparelho que possibilitava a projeção de imagens animadas. Era como uma mistura de lanterna mágica e praxinoscópio (que também tinha sido inventado por ele 11 anos antes). Em 1892, ele começou a exibir suas primeiras animações no Musée Grevin, em Paris: Pauvre Pierrot, Clown et ses chiens e Un bon bock. Foi só depois de cerca de 13 mil sessões, em 1900, que as Pantomimes Lumineuses de Reynaud pararam de ser exibidas.